18.1.12

Retrospectiva – A centenária figueira


Incentivado pelo amigo e decano jornalista o comendador João Natalício de Oliveira, desde o final da década de 60 do século passado iniciei timidamente a escrever artigos sobre ‘Pequenos Trechos da Grande História de Ponta Porã’, manchete que ele mesmo idealizou. E nesse espaço de quase cinqüenta anos, espelhando-me e tentando trilhar na mesma linha dos meus preferidos escritores/contadores de histórias regionais Hélio Serejo e Elpídio Reis e de historiadores e críticos literários deste Sul Maravilha como foi Paulo Coelho Machado e como é atualmente o Isaac Duarte de Barros Filho, e ainda tratando de temas sobre a economia rural, venho tentando registrar nossa contemporaneidade.


Com alegrias e esperanças comemoramos agora a início de um novo ano. Adentramos no Ano 2012 em que Ponta Porã festeja oficialmente o seu primeiro centenário, exatamente no dia 18 de julho. Nos últimos dias de 2011, após uma longa estiagem extemporânea e fatídica para a agricultura e outras atividades agropastoris nós produtores rurais amargamos a confirmação de sérios prejuízos financeiros.

A safra de verão 2011/12 foi definitivamente prejudicada em pelo menos 35 por cento, conforme dados oficiosos. A economia dos municípios do Sul do MS, sem distinção vai sofrer grande queda na arrecadação de tributos. Nos últimos dias do ano, exatamente 29 de dezembro inesperadamente uma tempestade com raios e ventos de alta velocidade atingiu o centro da cidade, causando inúmeros prejuízos materiais.

Fatidicamente um dos cultuados símbolos do início de nossa colonização a Figueira Centenária do Paço Municipal, não resistiu à inclemência do temporal e literalmente tombou definitivamente. Naquele final de tarde sentimos o calor humano dos habitantes da cidade, consternados ao admirar e cultuar a enorme árvore decepada e deitada qual um gigante adormecido.

Na manhã seguinte não foi diferente, enquanto os garis da Prefeitura executavam o trabalho da retirada dos troncos e galhos que obstruíam a Rua Antonio João, uma verdadeira multidão de pessoas aproximava-se, cada uma murmurando histórias vividas sob as frondosas sombras da velha figueira.

Comigo não foi diferente, e ali ao reencontrar um velho companheiro de farda do Onze o sargento Joel Portela, que também foi meu contemporâneo como militante do Internacional Futebol Clube, muitas lembranças afloraram em minha mente, como um filme de imagens inesquecíveis. Sob o manto protetor daquela Figueira por muitas vezes naquele local vestimos a camisa rubro-negra do nosso Inter da Fronteira, ao lado do Irala, do Aníbal Icassati, do Pavão/torneiro, Enéias e Laércio Cardoso, comandados pelo Geraldo Costa Ribeiro, seo Belmiro Albuquerque ou pelo Lauro Lorentz de Carvalho.

O futebol fronteiriço viveu tempos gloriosos no Campo da Figueira com o Ponta Porã F.C. da camisa azul e branca paixão do seo Nicandro Ernesto de Campos, do Nery Alves de Azambuja e do Carlito Roncati, não esquecendo do Byron Medeiros e dos Freitas lá do Monte Castelo. Dos atletas do Ponta vou citar o João Manoel Vasques, e o Acostinha. O time do Onze, o Guararapes das cores preta e amarela era a paixão do sargento Solis, do coronel Jefferson da Rocha Braune e do Coronel Erico Tinoco Marques.

O vermelho Noroeste E.C. do Cambona, do Dirceu, do Arizinho e da comunidade ferroviária marcou uma etapa. E o verde e branco do Club Comercial, último Campeão Amador do MT ainda Uno tinha no Ezaat Georges e no Olde Sanches os seus principais incentivadores, e daquele time vencedor de 77/78 posso citar o sargento Anzoategui, o sargento Aníbal, o Paqui, o Chico Brandão, Acostinha, Papi Fernandez.

E aqui deixo um abraço para o Bráulio Alvarenga um atleta e depois fanático cartola/torcedor do Águia da Fronteira. Falar sobre o Campo da Figueira é recordar obrigatoriamente do Ferriol, que foi zelador, roupeiro, jogador, bandeirinha e até membro da diretoria da Liga. Além do Futebol a velha Figueira abrigou em suas sombras muitos casais de namorados e amantes, trocando juras de amor.

Tristemente devemos registrar mortes por suicídio com enforcamento utilizando seus possantes e sagrados galhos. Pela década de 60, nos feriados e nos sábados à tarde as aconchegantes sombras das duas Figueiras recebiam em uma Feira Livre os produtores e vendedores de legumes, frutas, carnes e demais produtos naturais muito procurados pela população urbana.

Assim mais uma vez devo reverenciar e agradecer a natureza que sabiamente colocou as figueiras em nossas vidas. Ao iniciar minha vida rural, naquelas sombras benfazejas eu estacionava meu velho Chevrolet 51 – que nos finais de semana descansava do transporte de erva-mate, carregando para a Feira da Figueira a minha produção de abóboras, melancias, leitões, frangos caipiras e a tradicional mandioca dos caatins, a mais deliciosa.

Ao lado dos açougues do Aristides Bueno e do meu tio Catão Lageano que carneavam as vacas do Jamil Derzi, utilizando um galho da Figueira eu pendurava os ganchos da balança/mondana para avaliar as compras do José Lorentz de Carvalho e do seu irmão João Moritz, do sargento Dodô, Domingos Santana, do Honório Almirão fiscal municipal, do Adê Marques exator, amigos que já não estão entre nós.

Acredito que outros compradores como o casal de dentistas Sebastião Pereira e a Irma Portela Freire ainda com saúde, hoje ao lerem esta crônica reverenciem o renascimento de mais de uma Figueira naquele mesmo local, cumprindo a Tradição secular. E assim a história deve continuar.

2012 – Um Século Nos Contempla.


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