20.9.11

DIA DO GAÚCHO


* R. Ney Magalhães



Dezenove de Setembro é o Dia do Gaúcho, que deveria ser comemorado e festejado duplamente por nós descendentes desses bravos Pioneiros Riograndenses que no final do século dezenove aqui chegaram e iniciaram a Primeira Colonização Social e Econômica do então Sul do Mato Grosso ainda Uno.

Já no século vinte, no final de 1969 e inicio da década de 1970 este Sul Maravilha foi novamente agraciado com a vinda dos primeiros agricultores mecanizados, oriundos daqueles mesmos pampas e coxilhas onde também nasceram nossos avós e nossos pais.

Considero que a organização das Lavouras mecanizadas inicialmente cultivando arrôs/soja/trigo motivou os primeiros passos do atual agronegocio regional

Portanto foram duas fazes distintas de Colonização e de Desenvolvimento, promovidas pelo mesmo sangue sulista, sendo que a primeira com a ocupação e labor das terras consolidou e fixou as Fronteiras pós-guerra.

E a segunda, quase cem anos depois promoveu um rápido e prospero desenvolvimento econômico motivando e condicionando após Dez Anos a criação do Estado de Mato Grosso do Sul.

Neste dia 19 de setembro em que nacionalmente comemora-se o Dia do Gaúcho, fazendo justiça quero elevar meu pensamento para as mulheres que naqueles tempos difíceis acompanharam “as caravanas” de carretas de bois e cruzando terras argentinas e grande parte do território paraguayo alcançaram este sonhado eldorado.

Ouvindo historias de minha saudosa avó Anália dos Santos Berghan Albuquerque de Magalhães conheci alguns episódios da grande viagem enfrentada pela comitiva de trinta e duas carretas lideradas pelo vovô Luiz Pinto de Magalhães e pelo seu sogro meu bisavô de descendência alemã, Clemens ou Clementino Berghan de Albuquerque.

Naquele final de século no inicio do verão de 1897, na Bossoróca segundo Distrito de São Luiz Gonzaga RS, arreando os cavalos e atrelando os bois nas carretas iniciou-se a marcha no rumo do desconhecido cantado e festejado pelos gaúchos peleadores que haviam lutado na recente guerra da Tríplice Aliança, e que sonhavam em retornar a estas plagas fronteiriças que exibia neste planalto médio, inúmeras lagoas e enormes coxilhas de planícies idênticas aos Pampas da Querência nativa.

Na epopéia da travessia que enfrentou animais ferozes e grupos de bandidos salteadores chamados de “quatreiros” aconteciam também fatos pitorescos e alvissareiros como o nascimento de crianças.

Contava a vó Anália que duas das carretas menores eram destinadas para esse fim, e que sua única filha mulher a Senhorinha, nasceu no primeiro ano da viagem quando atravessavam terras paraguayas.

E assim fazendo justiça, nesta oportunidade recordando de minha avó eu desejo estender essa homenagear a todas as mulheres GAÚCHAS que enfrentaram as dificuldades dos quase três anos de carreteada, e depois vivendo aqui inicialmente em ranchos de sapé com paredes de pau a pique.

Gravadas em minha mente estão às lembranças dessa heroína gaúcha que foi minha avó Anália, a contadora de historias.

Dizia que em seus pertences com muito carinho transportava diversas latas com sementes de plantas medicinais como o guáco, alecrim, marcela, jateí caá e outros, alem de três máquinas de costura da marca Singer sua grande fortuna.

Essas plantas da farmacopéia caseira regional agora são comuns por aqui. O “guáco” porem dificilmente é encontrado, e assim como eu ainda cultivo esse tempero de chimarrão posso fornecer mudinhas para quem o desejar, afirmando que é um santo remédio contra tosse e outros males da garganta, recebendo as recomendações do amigo Dr. Asturio Marques que muito aprendeu com sua mãe Dona Conceição.

Quanto as máquinas de costura posso afirmar que foram instrumentos da mais alta importância na vida de minha família, serviu para a elaboração das vestimentas e como ganha pão em muitas oportunidades.

As noras, as sobrinhas netas e as inúmeras afilhadas, todas elas aprenderam e cultivaram a arte do crochê do tricô e da costura, tudo isso nas varandas da Casa Grande da Avenida Brasil, no embalo das tardes de “mate doce” enriquecido com caá he-em uma erva doce saborosa e nativa das margens do Rio São João. Muitas moças e rapazes das primeiras regiões exploradas como a Capei, Graça de Deus e vale do Rio São João, filhos de parentes ou compadres vinham “parar” nessa Casa Grande para estudar na cidade. As mulheres também aprendiam as artes domesticas, e assim recordo da família do Casemiro Príncipe Maciel de Oliveira, dos Graeff e das primas Pinto de Magalhães, Terra, Cabral e Siqueira, entre elas a Eva, hoje Siqueira de Jesus uma grande poetisa contemporânea. O saudoso amigo meu escritor tradicionalista nativo preferido o Elpidio dos Reis participou desse convívio.

Tempos que devem ser cultuados.

Sobre os participantes da Segunda Colonização temos muito a festejar e relembrar com carinho. Neste dia 19 de setembro Dia Nacional do Gaúcho em homenagem a todos os companheiros produtores rurais gaúchos e às suas mulheres cumprimento-os saudando a Dona Clecy esposa do Patrão do CTG Querência da Saudade, Ivo Cherini, o guardião e de nossas Tradições.



Produtor Rural

“agroney@bol.com.br”

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